Faz tempo que eu quero escrever sobre isso, mas sempre me deparo com a dificuldade em expressar o que sinto ou pior, de acabar atingindo alguém sem querer.
Mas quer saber, foda-se. Vou desabafar.
Todos os fatos estão basicamente relacionados a um acontecimento, e prometo tentar ser bem objetiva para falar do que eu realmente quero, resumindo os cinco últimos anos. E mesmo depois de tanto tempo que isso ocorreu, é como se um fantasma me assombrasse sempre, a ponto de eu ter vontade de mandar essa mensagem para cada uma das pessoas envolvidas.
Estive num relacionamento que durou seis anos e acabou há quase três. Durante esse tempo todo é comum que o núcleo de amizades de ambos se misturem, quase passando a ser um só. Pela minha experiência chegou a um grau de intimidade que eu acreditava não saber diferenciar quais eram “meus” amigos ou os dele, tamanho carinho que eu sempre tratei essas pessoas.
Quero chamar um grupo dessas pessoas de A. Lembro que em 2007 tinha pouco contato com essas pessoas através de um fórum na internet. Aos poucos fui aproximando – mas bem aos poucos, não tinha facilidade em entrosar e fazer amizades – e por estar começando um namoro, essa pessoa passou por toda essa fase de transição e entrosamento comigo. Foi mágico porque eram pessoas muito diferentes mas com gostos muito comuns, e pra entender melhor, eram games, RPG, HQ, animes, filmes, ficção científica e os mais variados temas da cultura pop-nerd-sifi-fantástica-gamer-anime.
Então, voltando, o contato era constante. Ao menos uma vez ao mês eu e meu parceiro nos encontrávamos com essa turma, e era muito bom. O grupo crescia, alguns caras começavam a namorar meninas com gostos em comum e no final eu ficava mais próxima das meninas do que deles mesmos, o que também é normal.
Essa volta toda para dizer que tenho muito carinho por todas as pessoas desse grupo, os agregados e seja lá quem eu tiver tido contato por todo esse tempo, mesmo que hoje não seja recíproco. Que isso fique muito claro, para o caso de alguém pensar que eu deixei de sentir isso.
Com o tempo, os dissabores de um relacionamento começaram a surgir, tornando-o problemático. Claro que isso é mais comum do que se imagina, só que quase todas essas vezes eu não expus para esses amigos qualquer problema. Sempre fui bem reservada e tenho uma amiga confidente que compartilho tudo na minha vida.
Foram anos com o relacionamento desgastado e se arrastando muito, desgastando também a convivência e a amizade de nós enquanto casal, permeada de muitos “baixos” e poucos “altos”. Mas era divertido quando saíamos com os amigos e tudo ficava bem.
Entrou o ano de 2013 e eu não estava bem. Já havia pedido um tempo no namoro por chegar a situações sérias de perseguição, ciúme sufocante e insegurança. Eu pedia o tal do malfadado “tempo” como uma forma de tentar salvar aquele relacionamento, e isso era sempre negado, retrucado com o pedido de uma chance. Questão de opinião. Quando chegou no mencionado ano, isso deixou de fazer diferença. Não nos fazíamos felizes já há muito, e faltava coragem dos dois para admitir, pois um ainda respeitava o outro.
Comecei a ficar angustiada com uma série de coisas, desanimada com minha vida profissional – que não estava indo mal – até que a frustração e a angústia tomaram conta de mim. Eu queria desaparecer, sumir da vida de todo mundo. Me sentia mal por não conseguir expressar o que eu sentia, e me sentia mais mal ainda por só afundar mais e mais naquela situação.
Eu não sabia o que estava acontecendo comigo e não entendia, nem conseguia melhorar isso. Eu simplesmente me sentia mal por ser eu mesma, por estar naquela situação.Como não externava essa angustia fora do portão da minha casa, ninguém nunca soube que eu não estava bem, a não ser essa amiga abençoada confidente. Mas, eu me afastei de quase tudo em razão disso, e se saía de casa para alguma coisa, eu tentava mesmo me distrair.
Um dia decidi: vou procurar uma terapia/ análise. Comecei a ir, mas mantive segredo. Na primeira sessão já tinha percebido que meu relacionamento tinha acabado há muito tempo, e que era um erro insistir nisso, pois nos machucávamos muito no processo. As sessões seguintes reforçavam isso mais e mais, além de outros problemas também.
Depois disso, eu resolvi comemorar meu aniversário. Queria provar que a conclusão a que cheguei na terapia era errada. Chamei várias pessoas, e foram os amigos desse grupo A, meu cunhado, amigos do ex, meu irmão e minha prima com seus amigos. O lugar era um pub pequeno, apertado, e como estava lotado, cada grupo ficou sentado numa mesa diferente, longe um do outro.
Eu estava muito estressada com isso que contei por alto, e enchi a cara (coisa que mal faço nessa vida, sinceramente). Mas enchi mesmo. Não lembro de ter sido grossa com alguém, ou feito algum papelão. Mas eu estava bêbada e lembro do ex me arrastando pelos braços toda hora para sentar na mesa que estava o grupo A, que nem tinha cadeira pra mim. Ele dizia “vem sentar com seus amigos”, e devo ter feito alguma pirraça, que fez com que ele me pegasse pelo braço e me puxasse. Esse é um dos flashes que eu lembro, e poderiam ser parte da visão distorcida de uma bêbada, não fosse por meu irmão e minha prima confirmarem isso. Quando essa memória veio na cabeça na semana seguinte, eu chorei. Chorei porque aquilo não era novidade, mas era a primeira vez que acontecia na frente das pessoas e eu senti vergonha.
Eu não culpo ninguém por esse dia, aguentar bêbado é mesmo um saco quando se está sóbrio. Onde eu fiquei a maior parte do tempo? Na mesa em que estavam meu irmão e minha prima, e por eu ser uma péssima anfitriã, queria conversar com ela sobre o casamento que ocorreria dali a um mês, e com meu irmão, já que saíamos tão pouco e eu estava muito feliz por ver ele ali. O ex também ficou enciumado – e com motivo – de um dos amigos da minha prima, que também conversava comigo e com as pessoas dessa mesa, e que era uma pessoa tão agradável que me incomodou, me culpei por me sentir bem perto dele como se o conhecesse há uma década – não, ele não deu de cima de mim, nem eu dele.
Então sei que dei pouca atenção as outras pessoas que estavam ali por conta do meu convite, e por isso eu me sinto mal. De verdade.
Mas o que quero esclarecer é que esse dia não foi a gota d´água, mas me ajudou a ver muitas coisas que eu já havia entendido na terapia, só não queria aceitar. Então o namoro acabou, eu decidi criar coragem e por um fim. Foi um rompimento brusco para todos ao redor, mas algo há muito esperado para quem estava dentro desse relacionamento.
Eu me afastei de tudo. No facebook, muitos “amigos” me deram block ou então me ignoraram quando souberam do rompimento. Quando acabou, a última coisa que fiz no facebook foi enviar uma mensagem para o melhor amigo dele e dizer “cuida do fulano, ele está muito abalado. Nós terminamos e não voltaremos mais”. Eu decidi encerrar a conta para não ficar tão mexida com aquilo, e fiquei por fora por pouco mais de três meses. Não recebi um telefonema desse pessoal do grupo A, para saber se eu estava viva, bem, ou qualquer merda que fosse (salvo duas exceções). Fiquei muito triste por não se importarem, mas depois aceitei que ninguém depende do que acontece na minha vida para tocar a vida adiante e viver.
Depois de umas semanas me envolvi com outra pessoa – sim, a pessoa agradável que estava lá no meu aniversário – e apesar de ser uma constatação nada incomum – a vida é minha – todos que eu pensava serem pessoas próximas a mim me julgaram, e me julgaram muito. Falo isso porque é infernal uma pessoa que você está sempre em contato começar a agir como se você não existisse, E VOCÊ SEM ENTENDER QUE MAL FEZ PRAQUELA PESSOA TE TRATAR ASSIM. Eu perguntava sempre pra minha irmã: “mas que porra eu fiz pra essa pessoa pra ela me tratar assim? Se alguma coisa aconteceu, foi entre eu e meu ex e só entre nós! Qual o sentido disso?”
Soube depois, por boatos – que me perseguem até hoje – que meu ex procurou desabafar com muitos amigos que tínhamos em comum, principalmente esses do grupo A, e que estavam no meu aniversário. Eu era a pessoa que, “sem meu ex entender, havia terminado o namoro do nada e pulado nos braços de outro, que quase certamente eu já estava com ele ainda quando namorando com o ex”. Eu me tornei a filha da puta da história, a babaca, e ninguém quer manter contato com um filho da puta. Eu era também a pessoa que “provocava o ex constantemente”, “permitindo que meu namorado atual enviasse cartas para o ex, com fotos, ameaçando e exibindo o prêmio que era eu” – SIM GENTE, PELA MILÉSIMA VEZ ESSA HISTÓRIA NÃO É VERDADE E EU FICO MUITO TRISTE POR TEREM PENSADO ISSO DE MIM E DAS PESSOAS QUE TEM CONTATO COMIGO. Eu achei que estivesse livre de toda a coisa doentia, mas não, ela ainda me perseguia.
Essa historia é tão surreal que eu me arrependo muito de não ter levado pra Polícia, apesar de ter feito Boletim de Ocorrência. O ex, ou alguém próximo a ele, enviou pelos correios para o ex, um envelope contendo várias fotos minhas com o ex, e o remetente era, ora pois, o atual namorado, com um endereço aleatório. Curiosamente essa correspondência foi entregue na casa do ex, no aniversário dele, fev/14, quando era comemorado com uma festa junto com todos os amigos do grupo A. O que eu poderia dizer em minha defesa para todos aqueles que estavam ali? Nada ué, gente filha da puta tem é que ficar calada mesmo.
Eu já vi várias dessas pessoas na rua, e fui ignorada. Já tentei cumprimentar na rua, ainda que de longe, e fui ignorada. Uma vez fiz questão de chamar a pessoa pelo nome, depois dela me ignorar várias vezes, e ela veio toda sem graça, me deu um oi e sumiu. Foi na rua em que trabalho e depois disso nunca mais vi a pessoa por ali. Coincidência ou não, eis os fatos.
O ruim é que algo tão medíocre fez com que esse grupo de amigos também hostilizasse meu namorado atual, suposto remetente da correspondência enviada para alguém que ele mal sabe que existia, quem dizer onde morava para remeter a carta. Essa foi a parte que mais doeu e foi ali que comecei a desistir de tentar nutrir amizade com a maioria daquelas pessoas. Apenas DUAS PESSOAS, de quase vinte, veio até mim me mostrar aquilo e perguntar se era verdade. O resto estava contaminado, ou simplesmente não se importou.
Um mês depois o ex começou a namorar – algo que eu sempre pedia nas minhas orações – e ele finalmente me deixou em paz. Acabou o tormento, e dali pra frente eu também já sabia que ninguém mais me chamaria para nada (ninguém desse grupo), pois agora havia a desculpa do “nossa, mas vai colocar ela e a namorada atual do cara juntas, isso não vai dar certo”. Gente, eu devo ter sido uma das pessoas que mais fiquei aliviada (por mim) e feliz por ele. Simplesmente, parem.
Tudo isso que aconteceu me causou uma nova angustia que graças a terapia, não aumentou. Eu ficava abismada que nenhuma dessas pessoas – duas, somente, se importaram – me ligassem ou entrassem em contato. Eu não sabia o que era falado de mim mas sentia a hostilidade e com isso fui me afastando desse grupo.
E eu juro que tentei me reaproximar, mas queria evitar onde o ex estivesse para não ter nenhum desconforto. Daí era impossível pois ele estava em todo lugar com a turma. No Natal de 2014 eu quis aparecer, aproveitar um encontro anual que todos fazem e matar saudade. Propositalmente esperei até que o tradicional amigo oculto acabasse para chegar lá, pois se eu fosse hostilizada ali naquele ambiente, não ia aguentar segurar a compostura por muito tempo. O ex estava lá e eu já esperava por isso: a essa altura eu e ele já estávamos com outros companheiros, mas no dia estávamos sozinhos.
Em uma contagem quase de meio a meio, parte me tratou bem mas com muita frieza e hostilidade – me chamando pelo primeiro nome, que nem era comum de se fazer naquele círculo – e outra parte conversou comigo como se nada tivesse afetado aquele vínculo. E isso foi lindo. Ignorei as coisas ruins e saí de lá com o peito quente, pois quem eu gostava havia me recebido muito bem e eu não precisava me sentir mal com aquilo. Mas essa turma ficou muito mais próxima do meu ex com o término do namoro, então naturalmente houve um afastamento, meu e do grupo. A ironia era que, durante o namoro que acabou, meu ex desabafava descontentamento com muitos desse grupo, reclamava de vários deles, e era eu que aconselhava a contornar tudo e seguir em frente, pois eram amigos.
Tem outros desse grupo também que mantenho contato, ainda que pouco, e isso também é lindo. Mesmo que não tenham me procurado quando tudo aí em cima aconteceu – talvez por nem terem sido afetados por isso – continuam me tratando como se nada tivesse mudado. E é porque não mudou mesmo! Meu desabafo é para os outros, e que isso fique claro.
Até hoje escuto gente dizer: “nossa mas ninguém entende como eles terminaram, estava tudo bem e o ex sempre falava isso”. Eu sinceramente já me expliquei pra quem eu sentia obrigação de me explicar, e por mais que a vida tenha me levado a caminhos diferentes dessas pessoas que tenho como importantes pra mim, eu não tenho mais saco para falar desse assunto, daí que estou usando esse espaço para contar a minha versão e desabafar.
Daí me pergunto: qual o valor de uma amizade?
A amizade é uma conveniência? Só é importante quando há alguma vantagem? Se é preciso passar por algo desagradável, como ter que ouvir um desabafo, é melhor não fazer? O que te faz constatar ser amigo de alguém? A proximidade, o contato, a afinidade? Quanto custa ligar ou mandar uma mensagem para um amigo para saber se ele está bem? E quanto custa responder a mensagem desse amigo, que está querendo demonstrar que se importa?
Sou muito grata as pessoas que estão próximas a mim, dando total apoio. Sem isso, seria difícil ser forte para encarar inesperadas graves situações, que só desejamos que os amigos estejam por perto para nos apoiar. Cheguei ficar tão afetada em alguns períodos desse ano que qualquer pessoa próxima que me perguntasse “está tudo bem?” eu já contava quase que a minha vida inteira.
Eu também já aceitei que existem “amigos” que só vão te procurar quando precisarem muito de algo e você for praticamente a última opção a recorrer. Sabe aqueles que, há um tempão sem ter contato, nem dizem “oi, tudo bem?” e já vem com “me empresta isso?”, “você me ajuda nisso?”. É gente, isso também machuca. Melhor, já machucou. Mas sem drama, a terapia me ensinou a dizer não.
Tem aqueles que ainda estão envenenados por inverdades, coisas que eu já desmenti várias vezes, e que eu já não tenho mais paciência para me explicar. Sou ignorada, e daí reconheço que meu lugar é longe dali. A terapia me ajudou a lidar com isso.
Tem aqueles que nunca querem saber como você está, e quando você liga para saber de algo ou sei lá porque, ainda é obrigado a escutar “nossa, mas você sumiu”. Oh porra, mas sou eu que estou te ligando, e não o contrário!
Por fim, eu sei que para muitas pessoas minha amizade não vale nada. A terapia me ajudou a aceitar isso, a aceitar que não preciso agradar a todas as pessoas, e entendi isso sem drama nenhum. E eu aceitei, deixei muitos irem embora para nunca mais tentar chamá-los de volta. E também aceitei que EU não preciso de muitas das “amizades” que eu julgava ser importantes. Existem pessoas que simplesmente não valem a pena para nós.
Com tudo isso aprendi, em resumo, duas coisas.
A quem eu ainda mantenho contato, ainda que bem pouco, todo o meu carinho.
Aos demais, ofereço o meu mais sincero “fodam-se”.
Com amor,
L.