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Achava que uma das fases mais difíceis da minha vida seriam aquelas das crises na adolescência, com os nervos a flor da pele e a vontade de deixar de viver por problemas que, olhando para eles hoje, parecem tão pequenos …

A vida adulta é, no geral, superestimada e isso é consenso. Quando chegamos do lado de cá, entendemos que os sonhos que tínhamos, não foram seguidos. As expectativas que criamos não foram alcançadas e ainda não decidi se isso é uma coisa boa ou ruim.

Eu nunca fui uma pessoa ambiciosa, nem determinada. Nesse mar de apatia que sempre senti conduzir minha vida, fui me deixando levar em vários aspectos. Não que fizesse coisas que não queria – embora fizesse às vezes – mas nunca houve um plano traçado para seguir.

Hoje isso me assusta.

Estou com 32 anos e não sei o que fazer nem amanhã, nem daqui a um ano ou a 5. Se me perguntar o que não quero fazer, posso dizer algumas coisas mas certamente nada é absoluto e poderei, invariavelmente, fazendo uma coisa ou outra.

As metas tem sido, normalmente, terminar aquilo que comecei mas sem me importar com aquilo que não puder terminar, seja por preguiça, falta de interesse ou porque não dá.

Falo pra mim mesma que não gosto mais do que eu faço para viver mas me falta energia para me dedicar a algo que eu realmente queira, porque honestamente, não sei o que eu quero. Não sei se quero continuar casada, se quero continuar advogada, se quero um serviço público, se quero ser mãe, não sei se quero estar aqui.

Digo pra mim mesma que não quero advogar mais em um escritório porque esse nunca foi meu sonho, mas quem se importa com sonhos quando se precisa ter dinheiro para comer? A linha tênue que consegui alcançar foi não precisar trabalhar em escritório mas também continuar advogando, já que no âmago da minha inutilidade é o que eu sei fazer.

Um dos problemas disso tudo, a meu ver, é a expectativa criada em torno do que pensei a vida toda que seria a vida adulta. Sem maiores ambições, como já disse, no fundo sempre imaginei que seria serena, tranquila, com problemas aqui e ali mas sem essas tormentas como a que estou passando agora. Daí que penso que o problema tem sido a expectativa.

Crio expectativas sobre qualquer coisa. Se estou para encontrar com um cliente pela primeira vez, já me imagino ganhando a causa, trocando meu carro com o dinheiro e dando entrada na próxima viagem que será feita em janeiro de 2019 (isso na minha cabeça, claro). Daí me perco nesse devaneio e basicamente é assim que as coisas tem acontecido na minha cabeça, sejam fantasias boas ou ruins, e no menor sinal de que nada disso dará certo, eu desabo.

Sempre imaginei que casamento seria uma coisa difícil, mas sempre pensei também que o companheirismo faria com que todos os problemas fossem possíveis de serem atravessados. Acontece que não somos naturalmente companheiros, no fundo, as pessoas só querem o que for melhor pra elas e o que as deixar numa posição o mais confortável possível, sem se importar se isso vai sobrecarregar alguém. Seria uma visão pessimista demais sobre isso? Talvez, mas também poderia ser uma forma de enxergar uma realidade que, para muitos, é aceitável e suportável.

Eu não consigo definir se o casamento foi uma boa ideia, o primeiro ano é realmente difícil e há aquele medo desse desgaste todo destruir algo lindo de verdade. Encontrei uma pessoa que me respeita, que me trata bem e que me ajuda, ao mesmo tempo que eu me sinto sozinha o tempo inteiro no que eu acreditei que deveria ser um trabalho conjunto. Estou falando isso porque especificamente agora, nessa agonia, está parecendo uma escolha ruim, embora existam dias em que parece ter sido uma boa escolha.

Um filho, hoje, seria meu pesadelo e talvez o gatilho para eu sumir … sozinha. Se não consigo lidar com essa carga mental de hoje, trazer para a minha vida mais uma responsabilidade, que basicamente será assumida por mim apenas e para a minha vida toda, não me traz nenhum pouco de ânimo. Afinal, pra quê eu vou querer isso?

Como não consigo ser normal igual boa parte das mulheres que sonham com isso e estão felizes? Hoje eu vejo fotos de mães e fico triste por elas, ainda que elas estejam sorrindo muito nas fotos, com os olhos de júbilo e alegria.

Porque eu não consigo ser simplesmente … normal?

Não sei como lidar com isso tudo que está na cabeça agora, não sei enfrentar nada disso e estou tentando traduzir em palavras coisas que, se ditas, machucariam as pessoas de forma irreversível.

A insegurança de saber se estou conduzindo as coisas de forma correta ou não me ocupa mais tempo do que deveria. Tenho ficado horas inteiras mexendo no celular sem, de fato, mexer, apenas rolando o dedo e transportando a cabeça para um lugar vazio, desinteressante. Falta-me interesse … ele se esvaiu e não consigo achá-lo novamente e embora eu acredite que isso seja mais uma vez uma auto sabotagem para uma etapa importante que possa ocorrer na minha vida, uma outra parte está enchendo a minha cabeça com questionamentos no sentido se é isso mesmo o que eu quero para a minha vida ou que eu não sou capaz pra nada disso que estou tentando alcançar.

E, de novo, não sei o que fazer ou como sair disso. Parece que quanto mais eu mexo, mais me afundo.

As coisas não tem saído como eu imaginei e empaquei. Não sei pra onde ir, não consigo conversar sobre isso e não sei como lidar com isso. É uma merda porque a vontade é de desaparecer por uns dias, deixar tudo pra trás e ficar nesse porto seguro até sentir que é hora de voltar, o que pode ser algum dia ou nunca. Mas se esse abismo está dentro de mim, vou levar ele para onde for e nisso, consigo ver claramente não ser solução para nada.

Antes, o fato de chorar aliviava essa dor no peito e após algumas horas de sono, tudo voltava ao normal. Porém, dormi e acordei pior e sequer vontade de chorar eu tenho e isso faz com que o que está aqui no peito fique apertando ainda mais.

Se eu conseguir vencer esse dia, será uma vitória.

Até lá, boa sorte pra mim.

Afinal, envelhecer foi a maior cilada que entrei até hoje.