É difícil explicar porque tem dias que eu prefiro enfrentar a morte do que encarar qualquer outra coisa. Parece menos doloroso, mais fácil.

É difícil também entender além disso, que isso é um pensamento que me vem pensando apenas em mim.

Assumir milhares de coisas sem saber se vou dar conta pode fazer parte de um processo interessante de me sentir útil, me sentir necessária, sentir que estou fazendo alguma coisa importante para alguém. Funcionou por um tempo mas ultimamente não está mais dando certo.

Boa parte das manhãs a primeira luta travada é contra a vontade de ignorar qualquer compromisso e permanecer na cama. E não nego, tem dias que realmente perco essa luta.

Tem dias que paro por horas olhando o celular e rolando metros de páginas mas, na verdade, estou olhando para um vazio, uma busca desesperada de encontrar ali naquela tela um motivo bobo para justificar um sorriso.

Sorrir dói.

Parece, às vezes, um esforço maior do que aquele que preciso fazer para sair da cama.

Implorei para buscar um refúgio, para mudar os ares porque já estava prevendo que isso, isso que estou sentindo agora, ia me pegar. Tentava eu fugir disso? Sim, desesperadamente.

Agora chegou e eu estou desistindo aos poucos. Tentei fugir mas não tive forças, fiquei parada esperando as pessoas me ajudarem ou tomarem decisões por mim ou comigo, e essa espera fez com esse peso me encontrasse. Faltou-me coragem de fugir sozinha, sem esperar alguma coisa dos outros, sem esperar que alguém se refugiasse comigo nem que por um ou dois dias. Eu só queria respirar.

Encontrou, bateu.

Agora eu não sei lidar com isso. Isso vai e volta e das vezes que vai eu nunca lembro como realmente aconteceu. Deveria procurar um médico? Não sei, isso é caso de médico? Não é só uma cisma da minha cabeça? Uma frescura de quem tem “tudo” mas se sente vazia, como se nada tivesse?

Eu tento chorar e por isso pra fora, pra ver se tenho algum alívio. As lágrimas não descem. Quero mesmo que isso vá embora? Não sei dizer. Não sei se quero me sentir bem (sabe, me esforçar pra isso) ou se quero apenas que tudo acabe o mais rápido possível.

Assim acaba pra mim, acaba pra quem vive comigo. Todos ganham, todos ficam em paz.

Mas e quem gosta de mim? E quem cuida de mim?

Quem cuida de mim? Pensar nisso me faz sentir ainda mais sozinha, faz o peito doer ainda mais. Eu não sei quem cuida de mim, quem me pergunta se estou bem, se pode fazer alguma coisa para me tirar dessa tortura mental que sem querer acabo me colocando.

Estou deteriorando meu relacionamento com as pessoas que amo e não sei o que fazer pois qualquer coisa que penso que pode tentar evitar isso, parece não ter importância para as pessoas.

Se cozinhar para alguém é um gesto de amor, quem pratica esse gesto comigo? Se tornar a vida do outro melhor é um gesto de amor, quem está fazendo isso pra mim? Quem está ali pra me dar um abraço tão forte a ponto de eu perder o fôlego mas sentir, de verdade, que não estou só?

Sozinha, outra vez.

Faz as suas obrigações e cada um volta para o seu mundo. Sem um abraço, sem um carinho, sem um gesto de calor humano que demonstre que a pessoa está lá.

Eu não consigo fazer esses gestos mais … parece que todos os gestos que vão se perdem num eco, não reverberam de volta.

Sozinha, sozinha e sozinha.

Liga a câmera da reunião e estampa um sorriso, mas desliga a câmera e o peso no peito volta mais forte toda vez. Vê alguém e sorri, vai para a casa e chora incessantemente no volante do carro mas limpa as lágrimas a tempo de chegar em casa e não ter que explicar. Explicar é difícil: quem é que vai mesmo entender? E se não dá pra saber, qual o ponto de se desgastar explicando?

O peito pesa, penso em mil formas de deixar ele leve. Adianta pouco porque depois o peso vem, como se fosse um fantasma me perseguindo e me puxando para a cova.

Tento lutar. Juro que tento.

“Será que vou conseguir?”

Não sei dizer se “quero” conseguir.